quarta-feira, 23 de junho de 2010

Explosão

 As tardes de futebol televisivo dos domingos só estavam completas quando as rebentações vindas da cozinha começavam. Eu sempre abandonava os primeiros minutos ainda do primeiro tempo para conferir aquele milagre. De início, só pensava no fato de nada dar certo. Pelo desastre na cozinha resumir-me, só consigo imaginar futuras desgraças com os cozinheiros da vez. Como existe a possibilidade de uma transformação tão grande no formato de alguém, em questão de segundos? O estrondo do metal batendo na boca do fogão significava o soar de um sinal de iniciação. Começará o grande espetáculo! O líquido gorduroso e o exército de milhos já estão despejados na panela. Os grãos faziam um barulho de súplica. A ida do saquinho plástico ao fundo da panela representava um caminho de tortuosidade. Semelhante à ida ao campo de concentração, quem sabe. Os pobres milhos saberiam? Sentiam, sem dúvida, algo ruim para acontecer em curto espaço de tempo.



 O milho consiste-se em brevidade. Sem mais nem menos, já está dentro de uma panela com óleo quente lambuzando todo o seu corpo. Explosão. Couro duro. E parecia tão sólido e decidido. Ilusão... Sem perceber, já se transformou por inteiro e está cercado por um babado branco como flocos suaves. Agora está vestido com um véu afável, lindo. Não queria estar assim. Mas aconteceu tão rápido; nem deve ter percebido. Quando viu, já estava feito. Na certa preferia continuar milho. Um grão de amarelo alaranjado e firme. E sólido. E rígido. E implacável. Ou não? Os alicerces. Pelo visto, quebraram-se sem aviso. No final das contas, poucos se qualificam como piruás. Poucos resistem às pressões e ficam com a mesma essência. Poucos não são influenciados por fatores externos. Poucos permanecem. Poucos continuam. E nem vistos como vencedores estão, mas desprezados ou esquecidos no canto do pote, quando não quebram dentes e ganham o título de culpados.



 Ainda assim, está claro: O tamanho da pressão não importa, quando deveríamos nos fortalecer, abstrair os maus pensamentos, más decisões e continuarmos possuindo a dita difícil qualidade original: De milhos inexoráveis.



 No fundo, a televisão grita: Gooool!



 E corro da cozinha para alcançar o replay, com uma dúzia de pipocas empanturrando a boca.


(Camilla)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Representações não-verbais

Diálogo entre a amazona de Kafka e o espectador:

- O que eu posso fazer por você, frágil amazona?

 Do alto da galeria, o espectador mais vivo e hipnotizado com a presença da amazona, indagava-se. O que eu posso fazer por você?. Para ele, era como se a amazona respondesse com o próprio corpo, com os movimentos. Sua cintura, em deslocamentos finos, como de quem contorna obstáculos. Ondas. Rastejavam como o chicote do domador. Mais parecia uma súplica por socorro. Braços leves, face branda. O que eu posso fazer para te libertar?

 Ela dizia com o mover dos olhos. Pegue-me. Encarava. Vou buscá-la. E se não for? Espere. Desceria aos pulos todos os vãos, as filas, os degraus, as pessoas, o picadeiro, o cavalo, a dificuldade... Basta!

 Conseguiria?

 O corpo dela continuava a representar movimentos de chamado: Venha! Era o mover que parava no ar. Ou seria em mim que paralisava? Ou as pernas que não mexiam e eram incapazes de correr para o resgate? Coragem, diziam os riscos dos braços no ar, da amazona de porcelana.

 Todas as partes do corpo dela falavam. Falam comigo e eu respondo. Um pedido por liberdade. Observava todos os detalhes, menos a boca. O que aqueles lábios poderiam dizer? A única parte que poderia falar com sons era muda. Pude ouvi-los com o sentimento. Timbre? Desde quando sabia leitura labial? Os lábios abriram-se:

- É tudo representação. Coisa de circo.

Não estaria, portanto, em perigo? Por que depois dessa notícia tudo ficou mais pesado?

(Camilla)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A história de Cinderela, na visão da abóbora

         O meu conto está pela metade. Cheguei na casa de Cinderela quando a situação estava prestes a mudar. Não conheço direito os pormenores de seu início, mas, uma história de amor não é lembrada pelo seu final, seja ele infeliz ou alegre?
            O bom de ser uma simples abóbora, quase esquecida em sua cesta de legumes, é que eu aprendi a observar as pessoas minuciosamente. Passei a reparar seus movimentos, suas expressões e, às vezes eu sentia que por pouco eu não conseguia ler seus pensamentos.
            Reparar em Cinderela me deixava triste, querido ouvinte. Era uma moça formosa, com ombros delicados, pés e mãos pequenos; só que seu olhar era profundo e só para tão pouca idade e vivência.
            Cheguei a desejar que ela pudesse trocar de lugar comigo, para poder descansar e esquecer por uns momentos de sua realidade. Eu, ao contrário, carregaria com prazer o seu fardo.
            Gosto de pensar na sorte da vida. Isto talvez por eu não ter o que fazer. Nem sei se para uma abóbora, pensar tem alguma virtude. De que me serve refletir, se ninguém conhecerá meus pensamentos, minhas ideias?
            O que eu queria dizer, meu amigo, é que a sorte da doce menina viria logo a mudar. Por mais mágico, que pareça ser, uma fada madrinha atendeu ao pedido de seus amiguinhos e veio ajudá-la. Como você pode ver, fadas madrinhas não existem somente nos contos de fada.
            Com uma grande ajuda, Cinderela foi ao baile da família real a fim de poder dançar com o príncipe, que estava procurando por uma noiva. O jovem, o qual não me recordo seu nome agora, bailou e tropeçou com diversas princesas e moças, porém apenas Cinderela fez seu coração inocente bater com precisão. Ele havia encontrado aquela que dançaria com ele até o fim.
            Sim, não há erros; a vida prega peças. Talvez para deixar as pessoas mais lutadoras e firmes.
Como eu ia dizendo, o rapaz sabia que Cinderela era a sua princesa. Ele não precisava conhecer o seu passado, só precisava dela por ela mesma.
Após prazerosos momentos de dança juntos, as badaladas da meia-noite começaram a soar e, desconcertada, a moça iniciou a sua fuga. Como corria! Pude presenciar de longe toda a cena, sem saber o que pensar. Cinderela deveria fugir ou enfrentar o seu destino? Ela continuou a correr, até que entrou em minha carruagem e partimos.
Oh, como sou tola, paciente ouvinte! Creio que me esqueci de contar-lhe preciosos detalhes dessa aventura. O que aconteceu foi que a fada madrinha fez à nossa personagem um vestido de festa muito bonito. Era de seda, cor clara, com pedrinhas enfeitando-o. Contudo, o que mais impressionava em suas vestes reais eram os sapatos de cristal, tão radiantes quanto a sua feliz portadora agora estava.
Talvez você esteja se perguntando como Cinderela chegou ao castelo, porque afinal, sua casa era longe da cidade e do comércio. Você ficará impressionado o bastante se eu lhe disser que fui transformada em uma carruagem? Sim, uma carruagem de abóbora, a qual minhas rodas eram raízes. Mas falar sobre mim não é o principal desta história.
            Cinderela fugiu da presença de seu amado porque era uma condição da fada madrinha. Ao terminarem as badaladas da meia-noite, ela voltaria a ser a pobre moça, vestida em trapos.
Não se entristeça meu ouvinte, pois esse conto ainda não terminou.
Aflita em sua correria, a jovem deixou escapar um dos sapatinhos de cristal, o qual o príncipe guardou para si e, no dia seguinte, saiu à procura da dona. Todas as mulheres do reino o experimentaram, mas em nenhuma servia perfeitamente.
Até que ele chegou na casa da madrasta de Cinderela. Suas filhas feias calçaram a peça, porém seus pés eram não somente muito maiores, mas também desengonçados. Forçaram diversas vezes o sapato, mas era visível o que ele não pertencia a nenhuma delas.
A madrasta, ao voltar do baile, havia notado em Cinderela uma mudança, um ar de felicidade que a garota nunca havia demonstrado antes. Não fazia sentido para ela como alguém poderia limpar o chão da cozinha cantando, rodopiando, sorrindo. Então percebeu que ela era a moça que havia encantado o herdeiro do trono. Com isto, prendeu-a em seu quarto, a fim de que ela não provasse o sapato.
Seus minutos de sofrimento fizeram-na perder a esperança. Como sofria. Pude escutar seus soluços, seu choro baixo.
            Obrigada por esperar, ouvinte, garanto-lhe de que sairá satisfeito com o final deste conto. Sim, Cinderela, com uma grande ajuda de seus amigos bichinhos, conseguiu sair de seu quarto e novamente correu.
Desta vez, correu para aquele que dançaria com ela até o fim.


(Livia)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O Rosto

Por meio dele, pude ver sua alma expresso em seu formato e tom. Possuo o privilégio que não tens, mesmo que comtemples sua imagem. Mas com ele, tens o poder de atrair ou repelir. Por ele se diz tudo, ou talvez não se diga nada. Enfim, nele pode se fazer a leitura de uma história de vida.

                                                                             Andrea e Claudio

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A Bela Adormecida

História contada a partir do ponto de vista de uma personagem secundária.
Personagem escolhida: Um cavalo.

  Estive boa parte de minha juventude no castelo real. Desde muito pequeno, ainda nos meus primeiros trotes, acompanhei de perto toda aflição do rei e da rainha, por não terem filhos. E tive a graça de também estar presente no dia em que a rainha descobriu que estava grávida. Foi um dia especial, abençoado até. Uma criança estaria a caminho! O que ela pensaria de mim? Pois eu já a amava e a levaria a todos os cantos da floresta. Estava ansioso para que ela chegasse logo ao mundo.

  Os nove meses demoraram, mas chegaram. Só agora percebo como o tempo é cheio de pressa e como as coisas acontecem rápido por demais. Quando somos jovens, agimos de maneira tão feroz que até nos esquecemos das coisas. Vocês devem saber onde eu quero chegar. Falo do tal baile que o rei fez tanta questão de fazer, em comemoração ao nascimento da filha. A cidade inteira foi convidada! E eu, como mandava o figurino da época, estava à altura do evento: Selado, com ferraduras novas e escovado. O castelo era flores, alegria e planos – muito diferente do que se vê por aqui atualmente.

  Mas eu falava da distração da juventude. O castelo sempre contratou funcionários muito experientes e alguns, como eu, estavam aqui há anos. Menos o ajudante do cozinheiro, novo e tolo, como a maioria dos jovens. Ele era todo confusão. E esqueceu um dos treze pratos de ouro que iriam ser usados para servir as fadas.

  Sim, leitor desavisado: eram treze pratos de ouro! Como é que a rainha iria se esquecer de comprar um a mais para o conjunto de doze, no caso de danos, perdas ou imprevistos? A rainha sempre foi muito cheia de atitude e dançava conforme a dança – se me permitem o trocadilho – em todos os bailes do castelo. Fazia ziguezague com o quadril e resolvia, todas as vezes, os problemas que surgiam. De certo que ela estava um tanto avoada nos últimos dias, mas ela não seria capaz de cometer um erro desses, não é mesmo?

  E o resultado todo mundo conhece. A décima terceira fada ficou esquentadinha, lançou o feitiço na pobre princesa, a outra fada aliviou um pouco o feitiço original, e a princesa, quinze anos depois (na tolice da juventude) espetou o dedo na roca. Agora o castelo inteiro é sonolência, até o feitiço acabar, cem anos depois de realizado. Eu fui o único a me safar, porque justamente no dia desse fuzuê, fui dar uma passeada pelos bosques vizinhos. Eu não vou sobreviver até o final dessa maldição, afinal, meu pelo já está velho e não posso mais correr como antes. Pelo menos eu me livrei dessa fase avoada de adolescente, mas terei que conviver com essa paz extremada até o final dos meus dias, que estão para chegar. Porém, eu espero que tudo acabe de vez e que a princesa passa encontrar um marido do futuro.

Camilla

terça-feira, 1 de junho de 2010

Se alguma mulher pudesse viver feliz eternamente, pudesse amar e ser amada, pudesse realizar todos os seus desejos, talvez então um mundo muito melhor estaria por vir pois a mulher é o ser mais corajoso do mundo.
Mas uma vez que não é assim, um homem perdido numa selva com bichos selvagens, sem míngüem para conversar, logo morrerá. Uma vez que é assim, fica difícil viver numa selva com tantos bichos e ausência de pessoas. A solidão acaba matando cruelmente este homem.

autoras: Alessandra e Antônia

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Para sempre que demora

Em todo o passado que viveria
Se fosse capaz, nada pesaroso
Guardar a nostalgia de guria
Até o dia do eterno repouso

Fria senhora ao canto do espelho
O duro crescimento regressivo
Presente sem o recordar saudoso
Até o dia do eterno repouso

Aos em volta fere o mal alemão
A memória virou contramão
Até o dia do eterno repouso

Efêmera é que parece a história
Lembrança falha sem escapatória
Aproxima-se o eterno repouso

(Camilla Wootton Villela)

Tema: eternidade.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

  Se alguma moça vestida de rugas, ainda com sonhos antigos de uma infância recente na saudade sentisse o vento bater nas costas, que modelasse o seu corpo e tirasse do pensamento todas as vontades gastas, as construções incabadas e as dores de feridas abertas - talvez então um forte sentimento de ventania seria o único capaz de fazer voar para longe as angústias densas do que foi e permanece. (Camilla)
  Mas uma vez que não é assim, que a armadura em que ela se encontrava, impenetrável, não trazia o grito desesperado, oprimido, que qualquer ser na mesma situação deveria bradar, ecoando em todos os ouvidos como música de uma orquestra uníssona; que ela fazia questão de demonstrar alívio e felicidade no sorriso indubitavelmente verdadeiro, conivente, convincente; que em suas mãos se expressavam o teatro iluminado do jogo de cena e o alvo pelo qual a plateia deveria olhar e admirar; uma vez que é assim, que nada pode ser feito à revelia do desejo exterior, que o ar que se respira é de júbilo e ausência de dor, nada mais do que o aplauso - o longo e desalmado aplauso - poderia ser dado. (Marcos)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Mas uma vez que não é assim

Primeira parte a ser adicionada





Mas uma vez que não é assim, se revolta e grita de desespero como um desabafo. Sai de casa batendo a porta e vaga pelas ruas durante a madrugada.
Uma vez que é assim, aceita que não há uma saída no momento, mas que ao amanhecer pensará no próximo passo, pois precisa se livrar daquela angústia que a segue há tanto tempo. O fardo de viver com aquele homem se tornara insustentável.

                                                       ( Andrea &                )

Nascimento

                                                              PALCO

SENHORES!
SENHORAS!
NESTA TERRA INCANDESCENTE
VEMOS ASTÚCIA E VALENTIA
DE UM POVO MATREIRO
QUE NÃO TEME LABUTAR
NOITE, DIA.
NO AR: CARCARÁ A MIRAR
NA TERRA: VIDAS, HISTÓRIAS...
NA ÁGUA: LODO, LATAS.
PELA ESTRADA TODA GENTE A PASSAR
CRIANÇAS, MULHERES...
RUDIAS NA CABEÇA
E FICO A PENSAR                     A SENTIR
ENQUANTO UMA VIDA SE INICIA,
OUTRA SE ATROFIA.
HAVAIANAS A DESCER PELO RIO ALEGRE
CASTELOS DE AREIA NO PÉ
MANGAS PARA ME LAMBUZAR.
TICO-TICO NA CALÇADA
CASOS DE ARREPIAR
CÉU, MAÊ, INFERNO!
DESDE O PRÍNCIPIO,
NÃO SEI ESQUECER
LATAS D´ÁGUA NAS CABEÇAS.
NO SERTÃO DO MEU INTERIOR,
CHOVE.

                                                     (Telma Rebouças)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

TEMA: ETERNIDADE
Badaladas
Tic, tac, tic, tac
O relógio veste o terno da eternidade
Em sua tenra e exata continuidade
Tic, tac, tic, tac
Etéreas ideias diante de etários conceitos
Esvaindo finitudes, prolongando sublimidades
Tic, tac, tic, tac
Efêmeras criações evoluindo a eternos feitos
Dissipando conclusões, aniquilando o que é findo
Tic, tac, tic, tac
Criando em vida, nascendo a lenda
Da morte, a eternidade é prenda.
Tic, tac, tic, tac
Tic, tac,
Tic,
Tac,
Tic,
(...)
Ana Carolina e Claudio

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Poema Eternidade

Poema:


Eternidade



Eternidade é uma constante inquietação

Mergulhada na alma

E na solidão



Saudade nem sempre é sofrimento

Mas sim luz que transcende

O labirinto do pensamento



Lembrança vai e volta

Luz que se revolta

Na frieza do sentimento



Imortalidade é como esperança

Que ao tempo certo é recolhida

Na perpetuidade da vida



Antônia de Fátima Cunha

Antagonismo

Tema: Amor

Antagonismo

Quanto do amor encontro nos ombros do mundo.
Quanto do amor é página aberta, que não cai
que não sai de si, não se mostra, não se esvai.
Quantos tons não descubro, olhos daltônicos
vermelho-sangue que em mim, sendo tudo, é nada.
Quanto do amor escuto, mas escuro é o som
que sequer chega em mim
Quanto do amor é amor, e quanto não é?
Desencontro, cegueira, surdez.
Antagonismo expresso
dentro de mim, por mim.
Autor: Marcos Paulo Rolim Tártari

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Temas

Tema: nascimento

                       Intenção de Soneto

Acolher?
D e s p r e n d e r
Despertar!
Lamentar...
Ao luar, o choro.
Nova gente ignora o devir.
Uma nostálgica presença.
A concretude embrionária.

Alegrar-se.
Entristecer-se.
Inquietar-se.

Um ser brota, outro desabrocha.
Muitos florescem, tantos frutificam.
Todos ficam.

Alunas: Andrea e Telma


*

Tema: morte

Renascimento


No momento em que Iolanda
Prostrada na varanda
Permitiu que seus olhos
Passeasem pela rua e
Observassem a guirlanda
Que guiava o seu amor,
Com a ideia da palavra morte,
Tremeu, como a terra que
Se abre e leva consigo
O vigor da vida.

“Por que, Sorte, você se curvou
Diante da Morte?
Por que o olhar que tanto me confortava,
Veio a termo?”

Iolanda seguia com os olhos a guirlanda
Olhos já cansados, vagos
Olhos sem brilhos,
Pois o que dava brilho à eles
Se foi, como se vai toda a beleza
De uma mulher bonita.

Morre tudo o que conhecemos
Mas de todas essas coisas
O que permanece é a melancolia
De uma alma que sobrevive
O certo é que a morte é monumento
Que homenageia o murmúrio
Triste da mente,
Mas que se permite renascer.

Cleonice e Livia.

quarta-feira, 31 de março de 2010

PORTA

Neste exercício de criação poética, os alunos escreveram um poema sobre o tema PORTA, com a exigência de inserirem palavras com o acento tônico em U, dissílabos com O e A e palavras com os sons P e T. A intenção central é mostrar como poesia é feita com palavras e não somente com ideias, como disse Mallarmé a Degas.

***

A  Porta

Por ela, a moça loira entra, a morena encosta,
a puta chuta e juntas todas elas se enroscam.

Nela, a topada da tapada, o tapume do curtume
e a pegada da malvada.

Com ela, o luto da viúva, o tapa da beata
E a resposta do idiota.     

Para alguns pode ser boba, doida e até porra-louca.
Para outros, pode ser torta e morta, mas é sempre uma
porta.


autores: Andrea e Claudio

*

Por ela passa gente
branca
preta
amarela
É passarela
que liga lugares.
Passam histórias
Passam vidas
e sonhos

Sonhos de angústia
de confusão
de alegria
e de superação

Ah, se as portas fossem
do tamanho dos sonhos
de quem passa por elas
Teriam portinhas
e grandes portais
Para o gato passar
Uma portinhola resolverá
E a moça gorda
tão grande é
Mas de ambições fracas
em uma portela
passam os dois pés

A porta queria
interferir nos destinos
Rumos
Encontros e desemcontros
desses passantes
nem sempre genuínos
Pobre porta
é muda
sisuda
Espectadora graúda
de pedestres

A noite vem
a porta fecha
Sobra maçaneta
úmida
Chave dura
e pontas
de uma saudade - trancada


autoras: Camilla, Livia e Larissa.

*

A porta

A sombra fazia reflexo na porta
A porta estava cheia de folhas molhadas
Com gotas de lágrimas
Lágrimas inundam o lago


Porta aberta para escoar água
Água que as lágrimas derramaram
Porta que ultrapassa a escuridão da noite
O portal anuncia que o dia chega


Com grande vaso de folhas de esperança
E um pote cheio de virtude
Para anunciar que perto do lago
A escuridão cessava e o dia raiava.


autora: Antônia.


*


A porta torta


Imponente na arquitetura da igreja está a porta,
Que, apesar do tempo, ainda respira muita beleza,
Mesmo tendo como origem uma árvore torta,
Daquelas que desaparecem no verde da natureza.


Mas por que a árvore torta não haveria de ser bela?
Se tão útil era ao mundo e em cada folha era vida?
Teve que ser morta para proteger a entrada da capela,
E, como porta, não deixar, de fé, a alma desprovida.
E agora, defronte do sol, da chuva e do vento quente,
Ela recebe, como porta, aquele que roga e que chora,
Abraça a pessoa boa e ouve a palavra úmida e carente,
Quando é noite alta e a madrugada muda não se demora


E logo amanhece e em sua esguia forma soa um tapa,
Que tampouco espera a colheita da horta ou do pote a água,
Ou o tempero dos frades e a compra do tapete e da capa:
É a súplica de alguém que tem o coração perdido em mágoa.


E quantos lamentos a porta, outrora árvore, agora encobre.
E quantas alegrias e surpresas ela ao seu interior conduz.
Sentimentos escritos vão para o baú de madeira nobre, Que a viúva coloca onde as preces emanam feixes de luz.


Ao lado da flor de caju a porta única e forte se manifesta
Da mesma forma que quando árvore ao Universo fazia
Porque tanto árvore quanto porta o seu ser é uma festa.
E agora porta torta ela não deixa de ser entrada da alegria.


autoras: Cleonice e Ana Carolina.


*


Ali estava ele. Sentado na poltrona que ficava perto da copa onde eu me encontrava. Era hora de comer a torta de cupuaçu junto com um delicioso suco, mas um vento passou por mim que lhe deu um baita susto, fazendo com que a borda da torta se espatifasse no chão. Ele não podia imaginar que a culpada de tudo era eu, baita burro ele era, parecia que ele me considerava um muro sem vida que só divisa a copa da onde se ouve a polca. Foi então que ele decidiu partir espantado com a rosa morta na mão. Passou por mim e eu não soube o que dizer. Eu era aquele caminho para o mundo obscuro que ele não conseguia descobrir desde minha solda fora solta na calada daquela noitada. Foi nesse dia, que patinando pela casa, ele rumou ao meu encontro, onde eu estava e jamais poderia deixar de estar. Dividindo, separando e fechando mundos.




autoras: Leila Gallo e Marcella Vicentini.


*


A PORTA


Não abre fruto de uma corda.
A maçaneta, azul, fora de moda
gira e traz à tona o som, quase mudo
da essência morta de um vulto.


Perto do chão onde rola
até o únicvo fim, parede que joga
de volta à origem, fechada, pronta
para abrir novamente, o mesmo ponto.


No peito a angústia. Partir ou ficar?
O poeta responde. Não corra. Não morra.


autor: Marcos Paulo Tártari.

*

A Porta.

A esquerda de quem vai
Ou a direita de quem vem
Não sei..
É também chegada,
É também partida
Se vai para o norte
Se vai para o sul
Quem sabe?
É ponte que leva
É ponte que traz
Para o azul do céu
Ou o escuro que não é noite
Um marco da entrada
O ultimo passo da saída
A decisão final de quem vai
Ou quem fica
Parada, prostada
Em espera atoa
Posta em estado de morta
Como aquela moça
Que aguarda e deseja
O barulho das chaves
Mas não há hora nem forma
De antigir tal ponto na ponta dos poonteiros
Então enrrigecida
Aceita...
Um vai e vem do vento
Um vai e vem do trem
Um vai e vem do tempo
Um vai e vem de alguém...

autoras: Bruna C. Franco e Alessandra.

quarta-feira, 24 de março de 2010

blog do curso de oficina de criação - alunos do curso de letras da PUC-SP

Neste blog, os alunos do curso de Oficna da Criação da PUC-SP, postam suas produções poéticas e em prosa, além de comentários, sugestões e tudo o que for relacionado à prática literária